domingo, agosto 28, 2005

Minúsculo Dicionário de Latim

Quer impressionar? Bom, ainda na linha do aprendizado de "Como ser Cool em 10 passos", decidi tornar público trechos de meu secreto dicionário de latim, herdado da não menos cool mariposa apaixonada pelo espaço unibanco.

Como sou egosísta, não coloquei o minúsculo dicionário em sua totalidade. Não há novidades (especialmente aos da arte do Direito) e alguns chavões latinescos foram inevitáveis.
Engraçado foi descobri que as expressões soam tão atuais para o momento político da atualidade.

Ah, e não se esqueçam da missa de sétimo dia da "Velhinha de Taubaté". Luiz Fernando Veríssimo mandará os santinhos.


Lá vai!!

Aquila non captat (ou capit) muscas, "A águia não cata (ou pega) moscas", isto é, uma pessoa importante não se incomoda com minudências.

Audaces (ou Audentes) fortuna juvat, "A sorte ajuda os audazes" (Virgílio, Eneida, Livro X, 284).

Audi, vide, tace, si vis vivere in pace, "Ouve, vê e cala, se quiseres viver em paz".

Brevis esse laboro, obscurus fio, "Esforço-me por ser breve (e) fico obscuro". Palavras com que Horácio (Arte Poética, 25-26) desaconselha aos escritores lacônicos.

Caeci sunt oculi, si animus alias res agit, "Os olhos são cegos, se o espírito se ocupa de outras coisas".

Cogito, ergo sum, "Penso, logo existo". Tradução latina de Je pense, donc je sui, afirmação de René Descartes...

Conscia mens famae mendacia risit, "A boa consciência ri-se das mentiras da fama",

Finis coronat opus, "(É o) fim (que) coroa a obra".

Libertas quae sera tamen, "Liberdade ainda que tardia".

Magister dixit, "O mestre (o) disse". Frase proverbial entre os antigos, popularizada pelos comentadores medievais de Aristóteles, para quem a opinião de seu mestre não admitia réplica.

Mutatis mutantis, "Mudado o que deve ser mudado".

Natura non facit saltum (ou saltus), "A natureza não dá saltos". Aforismo para enunciar que não existem, na natureza, espécimes ou gêneros completamente separados, havendo sempre um elo que os liga.

Natura sarat, medices curat, "O médico trata, a natureza cura".

Ne sutor supra crepidam, "Não (suba) o sapateiro acima da sandália".

Nihil sub sole novum, "(Não há) nada de novo sob o Sol" (Eclesiastes, Prólogo, na tradução latina da Vulgata).

Non vivas ut edas, sed edas ut vivere possis, "Não vivas para comer, mas come para viver".

Oculus domini saginat equum, "O olho do dono engorda o cavalo". Também se usa: "O olho do dono engorda o porco".


Oratio vultus animi est, "O discurso é o rosto da alma".

O solitudo, sola beatitudo, "Ó solidão, a única felicidade".

Pro Brasilia fiant eximia, "Pelo Brasil seja feito o melhor".

Res, non verba, "Fatos, não palavras". Emprega-se para dizer que uma situação exige ação, atos e não palavras.


Responsio mollis frangit iram, "Uma resposta branda desvia o furor".

Sapienti sat! "Ao sábio, basta!", isto é, "A bom entendedor meia palavra basta".

Tantum homo habet de scientia quantum operatur, "O conhecimento que o homem possui é só aquele que aplica". São Francisco

Timeo hominem unius libri, "Deve-se temer não quem lê muitos livros, mas quem lê muito um só livro".

Vox populi, vox Dei, "Voz do povo, voz de Deus".

sexta-feira, agosto 26, 2005

Segue o Seco

A estiagem parece ter chegado para ficar. A cortina imposta pela nuvem de fumaça que paira no atmosfera encobriu o sol e tornou possível observá-lo com maior segurança à retina. O ar seco deu aos céus do interior os tons da capital.

Durante o trajeto para a escola do meu filho, hoje, pude observar cinco focos de fumaça apenas sobre o perímetro delimitado pelo meu raio de visão. E mesmo de longe, senti-me sufocada.

Lembro-me perfeitamente quando me dei conta da poluição pairando sobre o céu. Foi há 14 anos, durante férias em Campos do Jordão com meu pai.

Empolgada com a possibilidade de ver de cima outras cidades do Vale do Paraíba, fomos a um dos picos mais altos da cidade (lugar cujo nome não me lembro agora). A chegada ao cume veio acompanhada da decepção. Também no inverno, o céu estiado estava encoberto dessa névoa que acostumamos a ver e que impedia a visão das cidades baixas.

Naquele momento tive nojo de respirar um ar assim, tão denso. Pensei como seria possível viver debaixo dessa atmosfera e até quanto nós levaríamos para “matar” todo o oxigênio do mundo. “Ainda bem que temos a Amazônia!”, pensei baseada na minha visão simplista e adolescente.

Por sorte, meu pai me elucidou sobre os efeitos da chuva sobre a seca. E eu, que tantas vezes reclamara das tempestades, desejei pela primeira vez ver o céu chorar copiosamente como naqueles documentários sobre floresta tão interessantes à época.

terça-feira, agosto 23, 2005

Off The Road

Restou um gosto entre o azedo e o amargo. Como uma comida mal digerida ou o dia seguinte a alguns drinks bem tomados.

Depois do susto, o surto. Na hora, a carga química desencadeada pelo o que se transformaria em trauma impediu qualquer análise racional.

Somos seres biológicos. Frágeis. Fortes. Muito mais do que gostaria ser. Preferiria ser votátil, etéreo –porém com um “que” de densidade dos espectros de filme B dos anos 50.

A mente, no entanto, tem vontade própria. E mesmo que queira, talvez aquela imagem nunca saia da minha cabeça. Daqui um tempo deve ser ela, suponho, trancafiada em alguma parte do subconsciente. E apareça apenas naqueles estágios entre a vigília e a lucidez.

Certamente por enquanto continuarei vendo aquela bermuda laranja. Iluminada à esquerda pelos faróis do carro. O corpo –que sabemos hoje estar vivo por uma força que só pode ter o nome de Deus— chocando-se contra a lateral direita do carro. O pior som já ouvido por mim. Nossos gritos. O pedido de socorro. Uma insanidade momentânea –poderia ser alguém conhecido?, cheguei a pensar. A incerteza. “Estaria ele embriagado, possuído, vivo, alterado?”. “Por quê teria se lançado de peito aberto na frente do carro?”. A tristeza do momento. A felicidade em encontrá-lo razoavelmente bem no dia seguinte (salvo pela osseatura que compõe o tornozelo). O alívio. E, novamente, a imagem que interrompeu gargalhadas falsamente protegidas no interior do carro. O gosto azedo. As bermudas laranjas.

domingo, agosto 21, 2005

Em frente ao palco

Começou com uma espécie de pitada de ciúmes. Logo de cara, uma dúzia de adolescentes na minha frente. Coisa de quem está acostumada a ver o show de perto. No final, a gente acaba se achando dono do lugar. Afinal, gostamos a mais tempo do artista e comentários do tipo: “sim, ele tem outras músicas bacanas além de Segundo Sol” são inevitáveis. Coisa de gente egoísta e mesquinha. Que não combina com as letras daquele que admira.

Depois de duas horas de espera, o show finalmente começa. Não é comum tanto atraso. Estranho, além do tempo, a quantidade de pessoas que lotam o ginásio atrás de mim. Entendo. Afinal, música boa é pra tocar na rádio também. Do contrário, iria contra minhas próprias convicções a respeito do pop. Popular é bom. Quem dera se todos pudessem sentir poesia na alma.

Aos poucos, o egoísmo é substituído por uma sensação inebriante de felicidade. O coro quase cala a voz do artista para quem escolhe a proximidade do palco (onde o som do ambiente nunca é o melhor –deficiência facilmente esquecida pelo prazer de compartilhar a expressão do artista, sempre tão sensível, performático).
Mesmo que “As Letras Mais Azuis” ainda não seja a mais cantada. E que o artista esteja particularmente melancólico e um tanto quanto sofrido naquele dia, essencialmente triste.

Sim, mais uma vez eu estava lá. Compartilhando sua música, poesia e, por que não, sua vida e sentimento. Espero ter, juntamente com os outros, ajudado a preencher o vazio daquele que ajuda a embutir lirismo em nossas vida. E o egoísmo do início ao final havia se esvanecido. "A questão é sermos razoáveis".

Rodapé: Na etimologia “fanatismo” pressupõe a ausência de lógica. Se for assim, não sou uma fanática. Há muita razão em admirar quem nos emociona. Ou não?

quarta-feira, agosto 17, 2005

Fim do Inferno Astral




2005 tem sido um ano estranho. Não é só a política que parece ter tomado um rumo enlouquecedor. Tudo está muito esquisito também no meu universo particular (bom, menos que na vida do Marcos Valério, isso é óbvio).

A mudança começou logo no dia 13 de janeiro –dia do aniversário do meu filho Henrique. Foi nesta data que senti com toda força do mundo aquela dor FDP no ombro. Ela foi o marco de uma reviravolta em uma vida aparentemente pacata --conforme a pauta do dia--, com direito a noites em claro na fila do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social), crise depressiva, freela com a Scheila Carvalho (quem diria?), novo corte, cor e ‘textura’ de cabelo, idas e vindas pra São Paulo etc.

De um dia para o outro, eu deixava --por imperativos do destino—a ocupação de repórter (e freqüentadora de academia de ginástica nas horas vagas) para outra não menos sofrida. A de dona-de-casa (essa sim, uma total sedentária).
Em princípio, fui ‘engessada’ pela dor e passe quase dois meses com o braço inerte, enlouquecendo menos graças à HBO e ao Cinemax. Dois meses sem dormir e tendo que provar ao empregador a origem do problema, fincada ao longo de mais de dois anos de trabalho semi-escravo.
Depois, uma disposição natural –porém quase ‘ópia’ (sic)— fez com que eu me interessasse por decoração e acabasse por pintar paredes e instalar vasos (na verdade, foi uma maneira de eu me vingar de meu próprio ombro).

2005 tem sido um ano difícil. Sem grana. Porém, estranhamente, um ano muito mais equilibrado e com menos dívidas –forçosamente enxultas pelo orçamento minguado (dentre as contenções fui obrigada a incluir o pacote HBO, meses atrás).

Desde fevereiro, meu filho Henrique tem sofrido constantes crises de bronquite, rinite e muitos outros ‘ites’ que deveriam permanecer apenas como sufixo na página dos dicionários –e deixar minha família de vez.

Apesar de todos os contras, 2005 também tem sido –estranhamente, mais uma vez— bacana (na medida do possível).
Reencontrei prima (dá-lhe Larinha) e amigos perdidos, o deleite de olhar para dentro e de escrever voluntariamente (sem ter um editor me ligando a cada minuto ou sob obrigação de cavar a melhor pauta possível). Fiz amigos blogueiros, assisti ao filme que esperava há tanto, passei muito mais tempo com minha família, redescobri o gosto de fazer bolos de chocolate à tarde e a vontade de estudar ‘de verdade’.
Dediquei-me ao inglês, tentei em vão ingressar na USP e a curar algumas feridas aparentemente incuráveis.

Agora, recentemente chegada aos 28 anos, descobri que 2005 tem sido um ano muito, muito diferente. Estranho? Sim. Incerto? Muito. Mas sem dúvida um ano em que meus sonhos têm enchido de cores e esperança essa vidinha antes tão monocromática.

Imagem: Skrull de Andy Wahrol

sexta-feira, agosto 12, 2005

Boa surpresa



Enquanto revirava uma coleção de revistas Caros Amigos, encontrei uma doce surpresa.
Como a caixa de CD em que tropecei tempos atrás, o achado --um encarte do poeta Manoel de Barros, com belíssimas ilustrações do mesmo-- encheu meu dia de alegria.

São fragmentos a então inéditos (escritos em 99), do 'poeta passarinho', decodificador da simplicidade do Pantanal e do cotidiano em lirismo.

Transcrevo aqui:

Dois fragmentos da
Pequena Biografia Minha para
Enfeitar a Noite de Meu Bem

Eu teria 15 anos
A fala torta dos tontos, das crianças e dos bêbados,
me encantavam mais do que a fala dos príncipes.
Outra: as pobres palavras que moravam nos fundos de
uma cozinha, tipo lata, borra, cisco, -me encantavam
mais do que as palavras ditas nos sodalícios.
Também meus alter-egos só eram pobres-diabos: tipo
Bola Sete, Mário Pega Sapo, Bernardo da Mata, Mané
Passo Triste, Pote Cru, etc.
Todos seriam bêbados ou bocós.
Um dia alguém me sugeriu que adotasse um alter-ego
respeitável, tipo um presidente, um almirante.
E eu respondi: mas quem ficará com os meus abismos
se os pobres-diabos não ficarem?




Ainda sobre Manoel de Barros
Admirador de Luiz Carlos Prestes, o poeta Manoel de Barros contou ter chorado de desgosto ao ver o político enaltecer Getúlio Vargas em um discurso que esperava há tanto. Não se conformou pelo fato de Prestes, que teve a mulher entregue a condenação certeira da morte por Getúlio ao governo nazista, 'virar a casaca', como diria a sabedoria popular. Abandonou o Partido Socialista, a quem servira, desde então.

Hoje, acredito que há pelo menos uma centena de petistas (e milhares de ex-simpatizantes como eu) que reviveram o sentimento do poeta ao ver Lula apresentar seu discurso populista de Getúlio. É de sentar e chorar.

Rodapé
Nas coisas práticas do dia-a-dia, espero ganhar uns trocados pra matar minha sede de consumo.

A lista (que pode aparecer esdrúxula) inclui um par de botas de plástico --de preferência azul royal, pra combinar com o céu-, daquelas, necessárias para certos serviços domésticos, como lavar o quintal, uma tesoura de jardinagem.

Por último, o objeto do desejo, um par de óculos rayban modelo seriado 'Chips'.
(Esse será mais difícil já que o preço está na casa dos R$ 650). Também preciso de um vinho. Não qualquer um. Um dos bons. Logo, caro.

E ainda: os 'novos' lançamentos do ColdPlay, Los Hermanos, Pato Fu, Foo Fighters, além de convites para dois shows programados para os próximos 15 dias em São José.

quarta-feira, agosto 10, 2005

Colcha de retalhos


Pode haver vários motivos para esses meus insights repentinos da infância.

Talvez seja pelo encontro diário e permanente com o universo infantil propiciado pela minha “cria”, hoje com quatro anos de idade. Ou a necessidade –viabilizada pelo ócio criativo -de montar essa colcha de patchwork, que é a própria existência.

Como um ‘deja vù’, as cenas têm vindo claramente à minha memória. De repente, quando menos se espera, puf! Lá estão elas.
Desde que começaram essas cenas já me fizeram entender algumas coisas importantes sobre minha vida. Foi lá, e não no pretérito recente, que achei minha fixação pelas cores. Sempre as tive.

Todas minhas lembranças, mesmo as mais tristes, são extremamente matizadas. Aliás, são elas, as cores, que vêm primeiro à mente.

Lembrei-me, ao acaso, do chão do banheiro da casa de um quarto onde morei até os cinco anos de idade. Gostava daquele piso, rústico, vermelho-terra, em contraste com os azulejos extremamente brancos –fruto da fixação, à época, de minha genitora pela limpeza.

Foi nesse ambiente, durante um banho (já aguçador de minha criatividade), que tive por volta dos quatro anos, suponho, a idéia de um slogan para o já ‘falecido’ inseticida ‘Detefon’. “´Detefon Mata Tudo´ seria legal”.
Anos depois, coincidentemente, minha idéia virou slogan mais popular da marca. Possivelmente, acho que o “Detefon Mata Tudo” passeava em outras cabeças fruto do inconsciente coletivo.

Lembro-me ainda dos lenços usados pela minha mãe para segurar os fios de cabelo ainda pretos também naquele tempo. Havia dois, basicamente. Um azul e outro vermelho.

Naquele tempo, não sei ao certo porquê, sentia uma solidão profunda, quase irreparável. A mesma me acometeu poucos anos depois. Transformei-a então em combustível para uma realidade paralela. Imaginava ser Robison Cruzoé. A ilha era o enorme quintal da minha casa (outra, melhor que a anterior de um quarto apenas). Lá era o meu mundo.
Com pedaços de lençóis velhos –um deles amarelo canário, muito desbotado— montava minha cabana para proteger-me das tempestades da “ilha”. Levava até suprimento para meu refúgio. E quando cansava, dava 30 passos e estava no alento de meu quarto.

Meu fiel companheiro, o gato Fofão, realmente cego de um olho (aproveitava do fato para transforma-lo em pirata), era quem me consolava. Passei algumas tardes cochilando estirada no quintal feito o homem de Leonardo da Vinci com o Fofão deitado sobre minha barriga.

Alheio a minha contemplação das nuvens brancas –facilmente transformadas em barcos que Cruzoé via passar de longe— o felino oferecia seu silencioso companheirismo. Poucos anos depois, Fofão fora assassinado em uma ‘chacina’ de gatos na minha rua. Estava eu tragicamente sozinha.

Intra-uterino
Aos 11 anos, passei quase um mês inteiro de férias na casa dos meus tios, em Poços de Caldas (MG). Tenho lembranças sensacionais dessa época. Desde os desenhos com cola colorida do Clube da Alcoa até o mais prazeroso de todos os passeios: o banho no Termas com água “de vulcão”, como pensava à época (aliás, tinha alguns pesadelos com uma erupção vulcânica soterrando a pequena cidade).

Aquele água liguenta e fétida pode ser repugnante para alguns.
Mas lembro-me bem da sensação de plenitude de mergulhar naquela água amarelada. O líquido enchia até a borda das banheiras marcadas pelo uso contínuo por um fio marrom que ia da torneira até o ralo.

Em um desses banhos –enquanto imaginava ser uma dançarina dos anos 30, idéia nascida provavelmente pela decoração retrô das Termas— tive um ‘deja vù’.
Vi-me nadando em um líquido semelhante. Quando abria os olhos, via uma cor avermelhada –como vemos ao ‘mirar’ na direção do sol com as pálpebras ligeiramente fechadas.
Naquele momento tive certeza de ter chegado o mais próximo do calor de 37 graus centígrados do útero materno, deixado para trás no dia 14 de agosto de 1977.

Utopia e Inspiração


Prelúdio
“Acabo de virar as costas e subir os degraus frios de metal. Deixo-o para trás em meio a uma pequena multidão. Em segundos, procuro sua imagem mas ela não está mais lá. Nunca estivera, teria pensado se não fosse pela marca que sua luz deixara em minha pele”.

Puderam, depois de tanto tempo, respirar o mesmo ar. Desta vez, denso pela alta umidade relativa do ar que aos poucos ganhara forma de gotas.
Ainda soltas na atmosfera, estavam as partículas de almíscar, madeira e sândalo que dela cobriam a derme. Havia escolhido o odor com precisão cirúrgica –deveria ser um perfume indefinido, desses que a gente sente apenas uma vez na vida.

Ficara ela confusa. Teria exagerado ao derramar em si a essência escolhida para a ocasião? Afinal, ela própria ficara por horas com o cheiro inebriante colado em suas narinas. Teria ele usado “de seu melhor sentido” para perceber tamanho cuidado da alma feminina? Teria ele pensado que os olhos estavam demasiadamente pintados (apesar de ser uma prática diária) ou ainda, que esla teria envelhecido demais?
Como sempre, ela se culpara pela forma que gastara seu tempo ao lado daquele que fora, de longe, seu companheiro e ao mesmo tempo parecia nunca ter saído de seu lado.
Teria ela, mais uma vez, cometido o pecado de galrear defronte a um ser tão taciturno? Teria ele, por esse motivo, perdido o encanto que ela pensara ser somente literário?
A conversa foi rápida e quase inócua (apesar de dar a ela uma nova possibilidade profissional).

Mesmo com o pouco tempo, fora suficiente para que ela pudesse fitar seu olhar novamente. Não esquecera desse par de globos brancos coloridos por uma íris da cor castanha-amendoada (definição que ela mesmo acabara de criar).

Como se desenvolvessem um R.E.M (Rapid Eyes Movement), ele desviava o olhar cada vez que o assunto discutido em palavras soltas ao vento úmido poderia ter sido grafado em Times New Roman. “Talvez fosse melhor se estivessem grafadas”, pensara ela.
Por três vezes, quase ingênuas, ela tocara em seu corpo, entre um gole de café e outro.

Também fora o suficiente para que sentisse a textura dos pêlos de seu braço –e desejasse que não houvesse entre eles nenhuma barreira além deles (pensamento discorrido sobre efeitos hormonais).

Pode ver como ele gesticulava as mãos, incrivelmente rosadas, postadas sobre a mesa. Pensara naquele momento que essa era a melhor forma de mexer as mãos ao falar –gestos tão comedidos, como todas as mãos masculinas deveriam ser.

Aos poucos, as gotas de chuva foram dando cor aquele momento de separação. Não pareciam ter brotado de um céu cinzento. “Foi uma pena terem surgido tão tarde”, pensara ela.

Quisera vê-las caindo compulsivamente sobre as pálpebras já distantes daqueles olhos que eram os mais doces já vislumbrados em sua efêmera existência.

sexta-feira, agosto 05, 2005

... Volto logo


Vou pra praia e volto na segunda. Essa massa de ar seco deve servir pra alguma coisa.

No mais, sem novidades. Tive um sonho estranho hoje envolvendo sanguessugas e um amigo que virava o Johnny Depp e depois desaparecia em meio aos bichos repugnantes. Essa coisa de assistir filme infantil (e misturar o novo Wonka ao mundo de Desventuras em Série) ainda acabará comigo... rs

Inté. ;-)

quarta-feira, agosto 03, 2005

Discovery e Zé Dirceu

Gambiarra espacial
Deu hoje na agência Reuters: O astronauta Steve Robinson consertou um pequeno –porém importante— defeito na nave Discovery. De próprio punho, Robinson removeu um par de tiras soltas da barriga da nave “num conserto inédito na proteção antitérmica de um ônibus espacial”, segundo a Reuters.
A saliência, de 2,5 centímetros, era suficiente para causar o superaquecimento da nave no retorno à Terra, programado para segunda-feira.

A ‘gambiarra’ do astronauta aconteceu a 352 quilômetros da Terra, onde o ônibus Discovery está atracado à Estação Espacial Internacional.
As palavras de Robinson durante o serviço soaram ao mesmo tempo ingênuas e aliviadas.
"Estou agarrando, puxando, e está saindo muito facilmente. Bonito. Legal", disse ele por rádio ao retirar o material que estava pendurado nas frestas entre as placas antitérmicas da parte de baixo da nave. "Parece um grande paciente sendo curado."

Segundo a Reuteurs, a “Nasa admite não saber se as tiras salientes são um risco para a nave, mas, depois de dois anos e meio e 1 bilhão de dólares gastos em melhorias na segurança dos ônibus após o acidente de 2003 com o Columbia, a agência não quer mais dar chance ao azar”.

Programa para E.T.
É estranho como apesar de todos os avanços tecnológicos, para leigos como eu, a impressão que se tem é que engantinhamos na conquista pelo espaço desde a ida do homem à Lua, em 69.
Ao mesmo tempo, são os satélites que giram em torno desse nosso planetinha que nos conectam ao mundo todo. Temos a TV por satélite, telefone por satélite, internet por satélite.
Ainda assim o nosso VLS explodiu (aquele que incendiou antes do lançamento em Alcântara (MA) matando 21 técnicos), o Columbia pegou fogo em 2003 levando sete homens e mais de um bilhão de dólares.
Desta vez, o Discovery foi construído, consertado, ‘reconsertado’, ao custo de mais alguns bilhões de dólares.
Será que de suas tevês os alienígenas zombam de nós?

No Brasil
Robinson pode não ser, mas tem alma de brasileiro. Qualquer um nascido na terra revelada ao mundo por Pedro Álvares de Cabral teria feito o mesmo. Os suíços podem ter o canivete. Mas nós temos a audácia. Além da gambiarra, é claro. ;-)

Enquanto isso, no fabuloso mundo de Brasília
Bom, Zé Dirceu diz que não é arrogante. Eu bem sei (já que o entrevistei pessoalmente durante a última campanha de Lula).
Diz que não sabe do esquema Portugal Telecom. Roberto Jefferson, por sua vez, faz cara de coitado. E Lula não diz nada.
Será que de suas tevês os demais terraquianos zombam de nós?

Ainda na Comissão de Ética, Zé Dirceu diz que viveu honestamente na clandestinidade.
Depois disso, ir para os Estados Unidos pela fronteira do México virou café pequeno. Se pro Zé é, pra Sol também deve ser honesto viver na clandestinidade.

Outra do Zé: seja lá o que fez e pelo o que será responsabilizado, o ex-ministro deve se apoiar na Justiça para livrar a cara.
Isso porque dificilmente será penalizado pelo “seja-lá-o-que-for” na Câmara. Se era ministro, não pode ter incorrido em falta de decoro parlamentar.

Ainda eles
Alguns deputados podem não ter cometido infrações que sejam alvo de investigações.
Mas bem que muitas vezez faltam com o “decoro do parlamentar”. Explico: quantas vezes você viu algum parlamentar se esquecendo ou confundindo durante os “interrogatórios”? É preciso decorar melhor o texto pra se destacar na peça (teatral).

terça-feira, agosto 02, 2005

Zé Dirceu --o camisa 9

Pipoca, refrigerante, uma mantinha pra esquentar esse frio.

É assim, como quem espera um jogo de final da Taça Libertadores, que aguardo o depoimento do deputado José Dirceu (PT) na comissão de ética, daqui a exatos seis minutos.

Que pena meus vizinhos não terem tanto entusiasmo pelo programa. E essa maldita dor de garganta que me assolou desde anteontem talvez me impeça de gritar: Goool!