quarta-feira, julho 27, 2005

Ainda mais chocolate

Mesmo com meu vínculo emocional com a primeira versão de “A Fantástica Fábrica de Chocolates” saí satisfeita do cinema.
Não esperava por uma decepção. Tim Burton não poderia deixar de ser sensacional, de um dia para o outro (basta lembrar, só a título de exemplo, de “O Estranho Mundo de Jack”, “Eduard Mãos de Tesoura” e “Peixe Grande”). E confiava na versatilidade de Johnny Depp (cada vez gosto mais dele). O ator encarnou Willy Wonka com maestria e não fez feio perto de Gene Wilder (não menos adorável).

O remake é mais bem acabado que o primeiro filme. A história tem começo (com as barras Wonka sendo embaladas em uma fábrica estranhamente automatizada), meio (flash-back do sr. Wonka “Jackson” sobre a infância e o encontro com os Oompa-Lumpas) e fim bem explicados –este um pouco diferente da versão ‘original’ (não dá pra contar aqui por motivos óbvios) e que entra no livro subseqüente de Roald Dahl, “Charlie e o Elevador de Vidro”.

A estética peculiar aos filmes de Tim Burton é mais uma vez surpreendente. Às vezes retrô mas sempre atual em razão da tecnologia bem empregada. A casa tombada e com telhado danificado de Charlie é um dos pontos fortes, assim como a “transição” da cinzenta cidade onde está a fábrica para o mundo colorido de Wonka (semelhante ao “O Mágico de Oz”).

Quando à trilha sonora, fui impedida de ouvir as músicas originais por imperativo do Cinemark de Jacareí (cidade onde vivo). A única sala destinada à obra só a exibe dublada. Quero mais!

Como parecer cool?

Com o intuito educativo, criei essas 10 regras para que você se encaixe facilmente ao mundinho “hype”. Quem sabe não vira um livro de auto-ajuda, tipo “Como ser 'cool' em 10 passos sem gastar nada”.

1. Expressões em latim impressionam. Nem que seja Malum vas non fragitur (Vaso ruim não quebra).

2. Visite museus pela internet. Entre em comunidades no Orkut sobre filmes iranianos.

3. Faça o mesmo com livros. Pesquise resenhas e saia por aí dizendo que leu essa ou aquela obra. De preferência de autores que ninguém conhece. Lembre-se: auto-ajuda não conta. Finja nunca ter lido Zíbia Gasparetto.

4. Tenha um visual falsamente moderno Isso é possível com uso de tintas azuis temporárias e piercings de pressão. Mas não abuse. Senão parecerá pop demais. (Vale ainda comprar um All Star cor branca).

5. Use expressões como “pequeno burguês” e outros clichês literários. Mas não abuse: “Há mais sobre o céu e a terra...” já está muito, muito batido. Mesmo para um chavão.

6. Se morar em São Paulo, vá (ou pelo menos passe em frente) ao Espaço Unibanco (ou Uniban‘cool’ para os íntimos).

7. Torça o nariz para qualquer coisa popular. Disfarce seu amor pela Jovem Guarda. Cool que é cool só ouve jazz, trance, coisas do gênero. Se gostar de MPB, é necessário provar sua fixação por Chico Buarque. Não basta só conhecer “A Banda”, mas ter lido (nem que seja a resenha) de algum livro do Chico.

8. Óculos grandes são imprenscindíveis. Ande como se estivesse flutuando, faça cara de estrangeiro quando, eventualmente, estiver no ponto de ônibus.

9. Ah, e se você andar de ônibus (porque não tem outro meio de transporte), justifique declarando que trabalha em uma pesquisa de campo sobre as relações interpessoais no transporte público (a viagem é para coleta de dados empírica).

10. Aprenda o mínimo de francês. Não vale recorrer ao sucesso do início dos anos 90(Jordy, aquele moleque que cantava uma musiquinha enjoativa) e nem aos termos já incorporados ao vocabulário brasileiro (brioches, sutien ou abajour).

domingo, julho 24, 2005

O Jogo da Amarelinha - Capítulo 7

Tradução de Fernando de Castro Ferro.

Toco a sua boca, com um dedo toco o contorno da sua boca, vou desenhando essa boca como se estivesse saindo da minha mão, como se pela primeira vez a sua boca se entreabrisse, e basta-me fechar os olhos para desfazer tudo e recomeçar.

Faço nascer, de cada vez, a boca que desejo, a boca que a minha mão escolheu e desenha no seu rosto, e que por um acaso que não procuro compreender coincide exatamente com a sua boca, que sorri debaixo daquela que a minha mão desenha em você.

Você me olha, de perto me olha, cada vez mais de perto, e então brincamos de cíclope, olhamo-nos cada vez mais de perto e nossos olhos se tornam maiores, se aproximam uns dos outros, sobrepõem-se, e os cíclopes se olham, respirando confundidos, as bocas encontram-se e lutam debilmente, mordendo-se com os lábios, apoiando ligeiramente a língua nos dentes, brincando nas suas cavernas, onde um ar pesado vai e vem com um perfume antigo e um grande silêncio.

Então, as minhas mãos procuram afogar-se no seu cabelo, acariciar lentamente a profundidade do seu cabelo, enquanto nos beijamos como se tivéssemos a boca cheia de flores ou de peixes, de movimentos vivos, de fragância obscura.

E se nos mordemos, a dor é doce; e se nos afogamos num breve e terrível absorver simultâneo de fôlego, essa instantânea morte é bela. E já existe uma só saliva e um só sabor de fruta madura, e eu sinto você tremular contra mim, como uma lua na água.

Júlio Cortázar

sábado, julho 23, 2005

Um chá pra curar essa azia

Tráfico no lamaçal
***Beira-Mar enfim parece estar no lugar certo. Acomodado em Brasília (sabe se lá até quando), depois de ser transferido pela Polícia Federal (por conta de um pedido de seu advogado), ele tem muito a aprender sobre crime organizado lá na capital do Brasil.

****O governador tucano de São Paulo, Geraldo Alckmin, bem que nega masdeve estar aliviado com a transferência do ex-bandido número um do país (digo 'ex' porque, guardadas as devidas proporções, acho que há outros até piores). 2006 está quase aí.
Imaginem se, por imperativos do “destino”, Beira-Mar conseguisse na “penitenciária de segurança máxima” de Presidente Bernardes (SP) o mesmo feito de Bangú (RJ), quando uma rebelião liderada pelo próprio contabilizou quatro mortos em 2003?


Rock´n´pagode
****Tudo bem. Acho ótimo o fato de o rock ser a moda do momento. Mas há coisas tão intragáveis na “nova música brasileira” quanto ouvir a letra da nova (?) música machista do Belo. Pseudo-filosofia sobre o fim do mundo, frases feitas, refrões mais que previsíveis e band boys travestidas de bandas de rock. Deus do céu.
Dá até saudades dos sucessos do antigo Só Pra Contrariar (sim, lembram-se daquela não menos horrorosa “To fazendo amor com outra pessoa. Mas meu coração vai ser pra sempre seu...”). Xô, desgraça!

Chocolate Factory
****Finalmente, assisti ao tão esperado remake da Fantástica Fábrica de Chocolates. A overdose do produto (que eu e o filho amado comemos durante todo o filme), no entanto, impedem-me agora de dissertar sobre minhas impressões sobre a refilmagem.
O xixi também prejudicou. Em vez do meu pequeno (que sempre me arrasta ao banheiro nas sessões –sobretudo nos momentos de maior tensão dos filmes infantis), fui eu que não pude conter o andamento natural e fisiológico do meu organismo após ingerir 500 ml de Coca-Cola antes de me sentar nas poltronas. Volto ao assunto depois que digerir tudo aqui, literalmente. ;-)

sexta-feira, julho 22, 2005

Notícias

Embora esteja acompanhando as notícias sobre os escândalos de Brasília e, pela primeira vez, empolgando-me com a TV Senado (quem diria?) decidi não tratar sobre esse assunto aqui. Já há piadas demais e articulistas em abundância para explicar o inexplicável.

Hoje, no entanto, senti-me compelida a fazer um breve comentário sobre o assunto. Ao ler a Folha de São Paulo, pude conferir que o preconceito a respeito das ex-mulheres (sempree acusadas de lavar a roupa suja em público após a separação) não se trata de senso comum. É fato consumado, minha gente!

Depois da ex de Valdemar Costa Neto, que acusou o ex-marido e presidente do PL de integrar o esquema do Mensalão, a mulher de Marcos Valério (aquela que tentou sacar R$ 1,89 milhão e não conseguiu) deve estar mandando e desmandando no marido (que, aliás, foi acusado pela ex-secretária de promover festinhas estilo popular em hotéis).

Se fosse eu, ah, sem dúvida dispensaria os empregados só para fazê-lo lavar as louças e suas cuecas todos os dias! Do contrário, soltaria um -"olha que eu chamo o Roberto"!!

PS. Parabéns à equipe Homem Chavão, pelos dois anos de vida do site!
PS2. Já repararam que todo dia alguém anuncia ter recebido dinheiro de Marcos Valério? Cadê o meu?

O melhor presente

Ao chegar no meu condomínio hoje, recebo uma caixa da Livraria Cultura deixada pelos Correios na portaria.
Penso: será que fui contemplada em alguma promoção nem estou sabendo?
Ao abrir, descubro que ganhei mais do imaginava.
O livro, saído de São Paulo, fora enviado pelo amigo lá de San Francisco --aquele que ousa usar a alcunha "From Hell" (um tanto quanto teen, não é?). Na verdade, Felipe, o mais apropriado seria "From Heaven"! Thank´s! ;-)

quinta-feira, julho 21, 2005

No espelho

Decidiu marcar o encontro tão esperado. Para não despertar qualquer suspeita, escolheu a fila de uma agência bancária, postada estratégicamente ao lado de uma delegacia e em frente a uma pet-shop. Era sem dúvida o lugar mais seguro --o que melhor preservaria a distância física necessária para o momento.

Carregaria como espécie de código "As Ilha da Corrente", de Ernest Hemingway, já com capa a desbotada pelos anos de estante. Talvez eles não se reconhecessem mais. Há muito estavam afastados e as marcas impostas pelo tempo e gravidade poderiam maculá-los em meio a multidão. Era sabido que o brilho nos olhos não poderiam ser vistos de longe.

Chegaria exatamente às 15h23. A precisão britânica era necessária para que a angústia não os sufocassem durante uma possível espera.
O tempo de permanência seria definido por quesitos menos óbvios --dependeria inclusive da saúde dos funcionários da agência e do volume de depósitos programados para o dia.

Há quanto tempo esperava pelo encontro? Nem se lembrava mais. Os imperativos da vida e a necessidade de continuar respirando impediram qualquer reflexão naqueles anos. Não era fácil ficar cara-a-cara aquele que era tão próximo quanto desconhecido.

Aonde tu terias andando, oh, alter-ego?

O Doce e o Amargo (novamente, o dicionário)

Há tantos adjetivos derivados da palavra doce quanto para as de amargo. Coisa de quem não tem mais o que fazer, dei-me ao trabalho de contá-los no meu dicionário –aquele de quem já lhes falei.
O resultado foi um empate técnico, fechado no placar 4x4. De um lado, lá estão elas: amargo, amargado, amargurado e amargoso. De outro, doce, dócil, docílimo e docilíssimo.
Não se trata de analisar aqui a etimologia de cada um dos derivados. Apenas lamentei o fato de conhecermos menos as palavras relativas à doçura (que não conta porque é substantivo). Afinal, quem é que saí por aí dizendo que fulano-de-tal é “docilíssimo”?
É uma pena não gastarmos mais tais palavras docilizando o mundo (sim, docelizar é verbo –e transitivo).
Como na língua e na vida, elas cabem dentro de um único espaço. O doce e o amargo. Cabe a nós escolhermos o que preferimos ‘degustar’.

quarta-feira, julho 20, 2005

Pequenos Prazeres de Inverno

O dia amanheceu frio. Úmido. Não gosto desse tempo fechado. Só serve para dar cor sépia às fotos. Sou movida à luz solar. Preciso dela como um prisma para minha realidade.
À tarde, debaixo de uma garoa que só serviria acaso a temperatura caísse mais uns dez graus, coloquei minha pashimina vermelha e meu novo brinco de estrelas cor verde-limão.
A vestimenta cuidadosamente escolhida acompanhou o trabalho quase braçal desempenhado hoje por mim hoje.
Servi de ajudante na mudança de minha mãe para o novo apartamento –sonho de toda a vida de minha genitora e que diminuirá a distância física entre nossas residências (separados apenas por 20 minutos de caminhada).
No caminho, um saquinho de amendoins cobertos de chocolate –de péssima qualidade, ressalto— ajudou a desviar meu pensamento que insistia em repetir: “que friaca””.
Na realidade, a textura dos amendoins é o que me garantiu momentos de êxtase hoje. Gosto mais de segurá-los e do movimento que faço quando os arremesso à boca do que necessariamente degustá-los.
Pequenos prazeres como esse divertem minha vida. À noite, na ânsia de dar continuidade à eles, rendi-me a um vinho barato pelo simples fato de segurar a taça e lamber –quando ningúem está perto— a borda de vidro molhada pelo líquido nem tão precioso assim.
Para acompanhar, duas colheradas de brigadeiro quente –comidas sem culpa, mesmo com o relógio já tão adiantado.
Agora, completo minha jornada iniciada às 9h37 com minha meias felpudas –motivo de deleite quando acaricio meus pés um contra o outro— debruçada sobre esse teclado macio. Pode haver algo melhor?

domingo, julho 17, 2005

Palpitações por pouca coisa

Emoção (do francês émotion): Psicol. Reação intensa e breve do organismo a um lance inesperado, a qual se acompanha de um estado afetivo de conotação penosa ou agradável. (Novo Dicionário Aurélio)

Foi uma semana emocionante. Não, não houve nada de tão estupefato para quem olha minha vida de fora. Mas daqui de dentro, a ótica foi bem, bem diferente.

Começou com um e-mail há muito aguardado. Um “post” simpático. A visita de duas amigas queridas. Duas decisões: a de tentar uma vaga como aluna especial no Mestrado. A segunda: construir uma ladeira nessa minha casa tão gelada.

Ainda no ranking das emoções, duas mudanças no cabelo: curtos e lisinhos (ainda vermelhos). Odiei o tratamento, em princípio. Comprei mais um chapéu. Depois, adorei o corte (que fiz hoje). Bom, esse é o tipo de emoção que só mulher entende!

O filho amado ficou doente mais uma vez. Logo, a emoção (se é que se pode catalogar como tal) de passar noites em claro, com termômetro em punho.

Rever minhas matérias na internet (pela necessidade de organizar um portfólio) também me fez reviver as emoções e sofrimento com cada uma delas. Senti muitas saudades que, em alguns momentos, ganharam forma e nublaram meus olhos (Não dá pra explicar. Só quem tem isso na alma pode entender o que é a emoção de passar 12 horas trabalhando e ir embora cansada, de saco cheio, mas feliz).

Emocionei-me ouvindo "Bad", "Stay" e "Walk On", do U2. Ao ver o depoimento do Marcos Valério (essa foi piadinha óbvia). Durante o filme 'aguinha' com açúcar "Como se fosse a primeira vez" (essa é verdade verdadeira) e ao trailler do "A Fantástica Fábrica de Chocolates" (espero ansiosamente pela estréia no dia 22).

Pra ser sincera, acho que minhas emoções ganharam conotação hiperbólica. Tanto faz. Sinto-me feliz com elas.

segunda-feira, julho 11, 2005

Inveja (Sobre amigos, vizinhança e até peixes coloridos)

Amigos
Qual o limiar entre a inveja e a admiração? Para mim, a resposta está no orgulho.
Não aquele difundido no senso-comum, mais próximo ao presunçoso. Mas o orgulho de se ter, estar perto ou conhecer o motivo de tal altivez (como acredito que deva acontecer àquele cujo irmão é um jogador de futebol famoso. Na primeira oportunidade, logo deve sair um “–Ah, sim, claro. Sou irmão dele”, frase comulmente acompanhada de um sorriso armado ao lado direito dos rostos).
Tive a idéia de escrever isso ao pensar em meus amigos (inclua-se nesta lista alguns familiares) e como me sinto ‘felizarda’ por tê-los.
Como a mãe que encontra a professora de matemática do filho -este abençoado pela arte do cálculo, não hesito em responder coisas como: “-É claro que conheço a Fulano(a). Ele é muuuuuuuuuuito meu amigo”, ainda que o tal Fulano seja um Zé-ninguém ou um João-qualquer.

Alguns admiro pela coragem de mudarem suas vidas. Outros, por mantê-la na mais absoluta ordem, de sempre.
Há ainda aqueles que são extremantes espertos e inteligentes. Outros, pela ingenuidade quase infantil.
Seja como for, lentos ou rápidos, executivos ou donas-de-casa, todos eles ajudam-me em minha “construção”.

Vizinhança
Outra coisa (além dos amigos) tem sido motivo de orgulho para mim. Trata-se do bairro onde moro, há dois anos. Não, não é um lugar super arborizado, com casas ou lojas bacanas e gente bonita/rica andando pelas calçadas (que, aliás, são bem precárias).
É um lugar simples (cujo nome pomposo evoca os Estados Unidos. Bom, nem tudo é perfeito), com cerca de seis mil moradores –a maioria nível ‘operário’ (odeio essa coisa de segregar as pessoas por grupos, mas se fosse catalogar, diria pessoas de ‘classe média’). Aqui há uma padaria (dirigida por dois –suponho— descendentes de chineses simpáticos), uma farmácia, uma locadora (a mais barata que já achei).
Grande aqui, só o hospital. E é claro, o motivo de meu orgulho –o lago da área de lazer, o maior e mais bonito da área urbana de minha cidade.
O lugar foi recuperado pela prefeitura no ano passado e hoje forma um lindo espelho verde para o céu azulado. Há anos, ele havia se tornado o maior problema para o bairro, em razão do esgoto que era depositado em suas águas.
Recuperado, o lago ficou repleto de peixes. Tantos que a pesca teve que ser proibida, pelo menos até março de 2006, como indica a placa.
Um casal de garças também elegeu o lago como lugar favorito. Assim como os pais com filhos –especialmente aos finais de semana—e os aposentados que alimentam diariamente os peixes –já cansados dos pães da padaria do “China”.


Pelo menos três vezes por semana passo por lá. Às vezes sob o pretexto de ir à locadora (aquela barateira, que aluga lançamento a R$ 2,50), visito o tal lago.
Em uma dessas andanças, após uma chuva torrencial, pude presenciar vários cardumes de alevinos coloridos. Os bichinhos, supus, haviam sido expulsos para o ‘deck’ que desemboca no esgoto. Logo, estavam fardados à morte por ‘asfixia’.
Sem rede ou coragem suficiente para descer até lá e salvá-los, fui embora pensando em voltar equipada para o resgate no dia seguinte. Os dias se passaram e não voltei, ficando com tamanho sentimento de culpa que tem me rendido alguns pesadelos com a alma dos bichinhos.

No confessionário
É horrível admitir, mas como espécie humana que sou, sucumbo facilmente à inveja (sim, aquela de sentido pejorativo) em algumas ocasiões. Como gente de pele do rosto perfeita, com sotaque sulista ou provido naturalmente de um cabelão liso (coisa de mulher).

Ops...

Bom, a história abaixo é realmente verdadeira, embora eu tenha trocado os nomes (motivo que me trouxe aqui). E, claro, incrementado um pouco a realidade (é parte do meu comportamento compulsivo).

As palavras foram realmente ditas, assim como o jejum, os 70 anos juntos, o encontro na bucólica Itanhandú (bom, já nem tão bucólica assim) e o crepúsculo que eles compartilham agora ;-)

Para que seja feita justiça, conto-lhes que o nome da mulher era Izalina, e não Alzira (ainda bem que a 'tia' Alzira não tem acesso à este blog. Ela está vivinha! E, apesar do erro, manterei incólume o texto em prol do momento).

Bom, já o nome do marido era muito menos óbvio do que poderia se imaginar: Gumercindo. E nem com toda criatividade do mundo eu poderia supor tanta erudição.

sexta-feira, julho 08, 2005

Pequena História de Amor (?)

A pequena história de amor durou 70 anos. E é verdadeira. Só pode ter sido uma história de amor. O que mais, além do amor, a faria durar assim?

Não seu o nome de um dos protagonistas. A outra chamava-se Alzira e era irmã da minha avó materna, Mariana. Aos 84 anos, 'tia' Alzira cuidava do marido -com dez anos de vida a maisque a esposa- e já debilitado por uma doença decorrente da própria idade.

Alzira cuidava do marido (a quem me referirei de forma carinhosa como Zé, por não saber seu nome. Ele era mineiro, de Itanhandú, onde os Zés eram maioria --confirmando o que o Censo já sabe).
Há anos, Zé já não se levantava da cama. Havia perdido a visão e mal comia. No passado, era ele -trabalhador rural- que provia a família e seus 12 filhos.

Até semana passada, o maior temor de 'tia' Alzira era deixar o marido sozinho. Mesmo com uma aparente força vital, não saía de casa para quase nada, temendo uma possível partida de Zé sem 'aviso prévio'.

Na semana passada, Alzira foi acometida por um ataque do coração fulminante. E partiu, sem ter tempo de dizer adeus a Zé ou mesmo, de passar a limpo tudo que possa, eventualmente, ter ficado entalado em sua garganta ao longo de sete décadas.

Debilitado, Zé morreu três dias depois. Antes disso, ainda no velório de sua mulher, juntou o que restara de suas forças e sussurou aquelas que seriam suas últimas palavras em volume alto suficiente para que restassem testemunhas.
Com as mãos sobre o corpo da companheira -que conhecia tão bem embora a luz não pudesse distinguir suas cores- revelou:

--Ah, mulher. Eu comia e falava por você... Só por você.

O jejum o levou para junto de Alzira. E, hoje --certamente mais jovens e companheiros, os dois sorriem enquanto contemplam as cores do crepúsculo que tingem o céu da antiga Itanhandú, sentados sob uma laranjeira ;-)

quarta-feira, julho 06, 2005

Bizarrices (sobre atração sexual)

Sempre me senti sexualmente atraída por homens diferentes. Bom, até acho graça nos padrões "Giannechinis" da vida, mas são os estranhos que me fizeram perder a cabeça.
Explico: não resistia àqueles que tivessem cicatriz no rosto. Elas sempre vinham acompanhada de um olhar perdido, meio solto. Ah, e bastava um par de óculos moldurando um sorriso largão para me ganhar. Magreza também é algo que sempre me seduziu. Soa esquisito? Pois é. Porque ainda não contei sobre minha atração pelos homens com cicatriz de reparação de lábio leporino? Super sexy!
Não que todos os homens com os quais me envolvi estivessem enquadrados nestes padrões. Mas sempre olhei para eles com maior carinho que os outros.
Talvez por acreditar que o sofrimento causado por estas imperfeições os levassem a esculpir a alma. E quem não sonha em encontrar um especrto lapidado vagando por aí?

segunda-feira, julho 04, 2005

Sobre inspiração, forma e conteúdo

Capítulo I
Foi no realismo fantástico que a talentosa amiga e escritora Marpessa de Castro descobriu sua verve literária. Coincidentemente, também sou fã do gênero desde que, sei-lá-quando-e-por quê, li pela primeira vez o romance “100 Anos de Solidão”.
Fico aqui a pensar (bem, tenho tido tempo para isso) se minha verve está esquecida em alguma estante empoeirada. Ou será que ela nunca esteve dentro de mim?
Sinto-me perdida quanto à métrica e forma. Hoje, escrevo por escrever, como um exercício mecânico e instintivo de expectoração.

Capítulo II
Como é difícil carregar milhares de palavras. Pode soar poético, mas essa afirmação foi tirada diretamente do meu mundo real. Explico: imaginem caminhar mais de dois quilômetros empunhada de um Aurelião (aquele que, como escrevi lá embaixo, garantiu-me espasmos de alegria e hoje –pelo menos por 40 minutos, foi galgado a fardo).

Capítulo III
Ainda no mundo real...

Agruras da semana:
1. Escrever uma matéria a partir de entrevista com dançarina-famosa-gostosona
2. Receber pelo “freela”
3. Pensar o que farei após setembro (quando passarei pela segunda perícia do INSS). Ah, essa é uma perturbação constante.
4. Curar a dor do braço (putz, soa redundante?).

Ela vai, ela vem

Ela aparece assim. Como quem não quer nada. Como aquelas paixões mal curadas. Ou ainda, pensamentos inadequados em horas impróprias. Pior: como aquelas moléstias inerentes ao mundo concreto (foi um jeito sutil para eu me referir a um desarranjo intestinal).
Tenho a impressão que ela nunca me deixará. Além de selar meu destino, ficará comigo para sempre?
Oh, maldita seja, dor no ombro!!

Sobre o Live 8

Esperança
Aos céticos, aviso: este texto é para quem acredita na concretização das utopias (sou uma pessoa de paradoxos, mesmo..)
Se é possível mudar o mundo? Sim, é a minha resposta hoje. Talvez eu só seja uma pessoa influenciável. Não se trata de acreditar em qualquer ferramenta de neurolinguística, mas quando ela vem acompanhada de música sinto-me totalmente vulnerável.
A realização do Live 8, no último sábado, encheu meu coração de esperança e tirou as cortinas que fechavam meus olhos para o mundo.
Talvez eu esqueça daqui um tempo os vídeos das crianças de rua na Índia ou dos desnutridos da África. Mas se eu mantiver meus olhos abertos ao menos para o que passa em nossas esquinas aqui do Brasil, quem sabe não viva apática diante da vida dos "menos favorecidos" (putz, os políticos sempre usam essa definição para os pobres, ao menos em campanha?
De qualquer maneira, meu nome está lá. Na lista direcionada aos oito homens mais poderosos do mundo. Como um rosto desconhecido na multidão que acompanhou o Live 8. Eles não poderão me ver, embora eu esteja lá. Minha voz ecoará em seus ouvidos. E a sua?

Hello, is anybory in there?
Conscientização política à parte, o Live 8 foi, sem dúvida, um espetáculo musical inesquecível. A começar pela perfomance do Green Day no palco de Berlim, ao show do REM (e a máscara azul de Michael Stipe), tudo foi muito, muito vibrante.
Mas assistir o Pink Floyd reunido novamente, após 24 anos, foi uma emoção singular. O duo de David Gilmor e Roger Walters ficará na minha memória para sempre. Sabe aqueles emoções que nos tiram o ar e se parecem com uma espécie de angústia adoçada? Bem, foi assim que me senti. A little Comfortable Numb... ;-)

sexta-feira, julho 01, 2005

Novamente, empresto as palavras de Quintana

Sempre há uma explicação para se copiar o texto. Se tivesse tamanho talento, talvez conseguisse desenhar aqui as mesmas palavras. Afinal, por mais que nos sintamos diferentes, todas as emoções são iguais. E a gente sempre tem alguém que mereça tal homenagem...

Uma alegria para sempre
(Para Elena Quintana)

As coisas que não conseguem ser
olvidadas continuam acontecendo.
Sentimo-las como da primeira vez,
sentimo-las fora do tempo,
nesse mundo do sempre onde as
datas não datam. Só no mundo do nunca
existem lápides... Que importa se--
depois de tudo-- tenha ela partido,
casado, mudado, sumido, esquecido.
enganado, ou quer que te haja
feito, em suma? Tiveste uma parte da
sua vida que foi só sua e, esya, ela
jamais a poderá passar de ti para ninguém.
Há bens inalienáveis, há certos momentos que,
ao contrário do que pensas,
fazem parte da vida presente
e não do teu passado. E abrem-se no teu
sorriso mesmo quando, deslembrado deles,
estiveres sorrindo a outras coisas.
Ah, nem queiras saber o quanto
deves à ingrata criatura...
A thing of beauty is a joy for ever
--disse, há cento e muitos anos, um poeta
inglês que não conseguiu morrer.

Os donos da bola

Primeiro tempo

Não devemos negligenciar a inteligência popular. Soa senso comum, mas de fato todo brasileiro dever ser apaixonado por futebol. Pude confirmar a partir de análise empírica durante a final da Copa das Confederações.
Lá na sala, os ‘dois homens’ da casa assistiam tal acontecimento enquanto a mim, o que interessava mesmo era eliminar da pia o que restara do almoço.
Uma passada pela sala mudou tudo. Bastou uma olhadela para Ronaldinho Gaúcho e a emoção que acaba afetando indiretamente a mãe dos juízes de futebol voltasse à tona. Como se nunca, jamais, tivesse saído daqui.
Em casa, qualquer programação musical sobrepõe os jogos do esporte sinônimo de brasiliandade –mesmo os dos meu querido time, São Paulo (quase sempre fico a par dos resultados do tricolor paulista no dia seguinte, pelo olhar rápido às bancas de jornais).
Mas anteontem, rendi-me àqueles 11 homens e sucumbi à taquicardia que agoniza milhares de brasileiros em dias como esse (por isso, acho perdoável a postura dos congressistas que, diante da mesma ou até maior empolgação, deixaram em segundo plano a votação pautada em plenário em detrimento do mesmo espetáculo).
Ao final do jogo, minha palpitação rendeu até um questionamento do amado filho –habituado a ver a mãe em sofreguidão apenas durante shows do Nando Reis.
--Pai, por quê a mamãe está gritando?
E a resposta: --Porque o Brasil está jogando filho. E vencendo os argentinos por quatro a um!, disse animado o querido marido torcedor.

Segundo tempo
Para que o pequeno não passasse vergonha diante dos aspirantes a jogador do condomínio –como a maioria dos meninos entre os dois e 17 anos é— tentamos explicar a ele o que era futebol.
-- “Onze homens em cada time, com o objetivo de colocar a bola dentro do gol adversário, aquela redinha que está no lado oposto do campo”, tentei com minha didática quase nunca apropriada para os menores de cinco anos.
Era mais fácil faze-lo cantarolar as músicas do Acústico MTV da já saudosa Cássia Eller.
Entender porque cargas d´água uma porção de homens corre atrás de uma bolinha, num campo imenso, pode não ser tão fácil.
O pai até que se esforçou, levando o pequenino ao fundo do condomínio para ensaiar uma pelada a dois.
Não teve jeito. Em menos de cinco minutos, estavam os dois de volta. A justificativa? A resposta do pequeno: --Ah, papai, vamos lá em casa ouvir um ‘sonzinho’.